Paulo Machado é o novo substituto de Manuel Serpa como presidente da Comissão Vitivinícola Regional dos Açores.
Alegando idade avançada, Manuel Serpa não quis recandidatar-se ao cargo, embora faça um balanço muito positivo do trabalho desenvolvido na CVR Açores ao longo de quase uma década. Exemplifica que conseguiu estabilidade no sector e cumpriu com outros objectivos como o cadastro e a criação do vinho regional. Informou que quando chegou à CVR existiam 2 vinhos certificados, “agora têm 21 marcas”.
Manuel Serpa, afirma que a CVR “fica em boas mãos”, porque Paulo Machado “é uma pessoa jovem mas muito competente”.
Paulo Machado, é engenheiro agrícola, tem 34 anos de idade e já uma vasta experiência neste sector.
Já pensando no futuro próximo, Paulo Machado, durante a cerimónia de tomada de posse, referenciou algumas actividades que acha importantes desenvolver a curto prazo, como por exemplo alguma “legislação que tem que sofrer alterações, para que se defina conceitos de concessão e redefinição de parâmetros de certificação”, e é de opinião que “os vinhos licorosos têm que ser o ex-líbris da região”. A terminar informou que “há que dar um passo mais agressivo no marketing, para vingar e garantir lugar no mercado".
Ao novo empossado desejo-lhe votos de maiores felicidades em prol de uma causa tão nobre, legítima e genuinamente nossa - Vinho!
Ao Presidente que cessou funções dou um abraço de amizade pelo que privámos, com a certeza que o continuaremos a fazer em torno deste "néctar" que tanto admiramos.
O presidente do Governo Regional, Carlos César presidiu, dia 2 pelas 10h 30m, no campo experimental da vinha afecta ao Serviço de Desenvolvimento Agrário do Pico, no lugar das Cafuinhas, freguesia da Madalena, ao lançamento da 1ª pedra da Construção do Laboratório Regional de Enologia.
Na cerimónia Carlos César realçou que este investimento é uma aposta na “qualidade, na referenciação e valorização num sector de tradição centenária da cultura da vinha dos Açores”, o laboratório será construído na ilha do Pico porque “se produz mais do que a metade do vinho produzido em toda a Região Autónoma dos Açores”.
O governante referiu que esta “estrutura está dotada de modernos equipamentos” permitindo resolver e responder à legislação em vigor, assumindo também um papel importante” no que toca à certificação de vinhos dos Açores.
Por fim informou que a obra tem um prazo de um ano num investimento de cerca de 2 milhões de euros e realçou que o mais importante é representar “uma nova dinâmica em projectos de emprego científico e económico que estão em curso e que resultam de uma profunda qualificação do sector vitivinícola dos Açores”.
Rádio Pico
A Quinta do Vallado, junto à Régua, estreia na próxima vindima, em Setembro, uma sofisticada adega que representa um investimento de cinco milhões de euros e permite duplicar a capacidade de produção para as 600 mil garrafas.
À nova adega, o Vallado junta uma nova quinta com 40 hectares no Douro Superior e um novo edifício com oito quartos para o Enoturismo. O valor total de investimentos ronda os oito milhões de euros.
A Quinta do Vallado é gerida pela dupla Francisco Ferreira (gestão agrícola e administrativa) e João Álvares Ribeiro (área comercial), que conta com a ajuda do enólogo Francisco Olazabal. São todos familiares e descendentes de Dona Antónia Adelaide Ferreira, que viveu no século XIX e historicamente ficou conhecida como a "Ferreirinha", empresária que dedicou a sua vida à cultura da vinha e à produção de vinho, no Douro.
João Álvares Ribeiro afirma que a adega representa o "maior investimento da história desta propriedade", implantada nas encostas do rio Corgo.
A capacidade de produção actual de 300 mil pipas esgotou-se em 2008, devido à crescente procura dos vinhos nos cerca de 30 mercados em que a Vallado está presente.
Agora, segundo Francisco Ferreira, a nova adega permitirá duplicar a produção para as 600 pipas e introduzir a "melhor tecnologia actualmente existente para a produção de vinhos".
São dois edifícios, cada um com cerca de 1000 metros quadrados, onde ficarão instalados o armazém de fermentação e a cave de barricas (envelhecimento), num projecto assinado por Francisco Vieira de Campos.
Esta cave que, segundo Francisco Ferreiro, terá total isolamento e humidade controlada, vai ter capacidade para 1000 barricas.
Na zona de fermentação, haverá seis lagares de granito para pisa a pé com vista à produção de vinhos do Porto e lotes especiais de vinho de mesa, e estará equipada com robot de remontagem automática, quatro balseiros de 6800 litros para fermentação e armazenagem de tintos, 35 cubas de fermentação, linha de engarrafamento e prensa de vinhos brancos.
Francisco Ferreira frisou que a ideia é aproveitar ao máximo a inclinação característica dos terrenos durienses, recorrendo à gravidade para tornar menos dispendioso o processo de vinificação.
As uvas vão cair por gravidade nas cubas de fermentação em inox.
Do projecto faz ainda parte a construção de uma Estação de Tratamento de Águas Residuais (ETAR), que vai custar 400 mil euros.
O Vallado vai abrir um novo espaço para recepção de visitantes, onde estará disponível uma loja de vinhos e espaço multimédia para apresentações e provas de vinhos.
João Álvares Ribeiro salientou ainda a aposta no Enoturismo, com a construção de raiz de um novo edifício, com oito quartos, num projecto também do arquitecto Francisco Vieira de Campos.
Actualmente, o Vallado dispõe de cinco quartos para turismo, de uma cozinha preparada para cursos de culinária, além de piscina e barcos para passeios no rio Douro.
Expresso | 10-07-2009
Aliança europeia combina vinho do Porto, presunto de Parma, queijo parmigiano-reggiano e vinhos da Borgonha para proteger designações comunitárias.
O Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) vai participar numa iniciativa comunitária para promover a "Excelência Europeia" através de produtos como os vinhos do Douro e Porto e da Borgonha, o presunto de Parma e o queijo parmigiano-regianno.
"Discover the Origin" é o lema desta acção que convida os europeus a descobrirem as origens dos seus produtos e a valorizarem as designações comunitárias, combinando, num mesmo cabaz, diferentes produtos de países da UE, com características específicas associadas às suas origens geográficas e com uma herança cultural própria.
A primeira iniciativa arranca esta semana, no Reino Unido, com apresentações das regiões e provas dos produtos.
A acção tem três alvos definidos: consumidores com rendimentos elevados, residentes em áreas metropolitanas e "gourmets" entre os 30 e os 45 anos, distribuidores de comida e vinhos e líderes de opinião.
Para a promoção deste cabaz de "Excelência Europeia" serão privilegiadas feiras de vinhos e gourmet, seminários em escolas, concursos, internet, visitas de jornalistas às regiões envolvidas no projecto, e publicações de livros e publi-reportagens.
Para o IVDP, este projecto insere-se na estratégia desenvolvida nos últimos anos para defender as designações de origem Porto e Douro, como a participação no Center of Wine Origins, nos Estados Unidos, em parceria com as principais regiões vitivinícolas do mundo.
Em 2008, a comercialização de vinho do Porto teve o seu pior ano da década, com as vendas a caírem 7%, para os 380 milhões de euros, as exportações em baixa e o preço médio por litro a descer dos 4,29 euros para os 4,26 euros.
Expresso | 16-01-2009
Em Portugal sempre houve grandes vinhos, garante David Lopes Ramos (Suplemento Fugas, Público). Mas nunca como hoje houve tantos grandes vinhos no mercado. A exigência do consumidor aumentou e arrastou consigo modas e saberes que mudaram em absoluto a identidade dos vinhos nacionais.
Estamos em Portugal num tempo em que se bebe menos, mas um conjunto muito mais alargado de melhores vinhos. Há três décadas, o panorama era muito diverso. Os consumidores eram menos exigentes. O vinho era um consumo necessário, por muitos considerado um suplemento alimentar: "Beber vinho é dar de comer a um milhão de portugueses", propagandeava, nos anos 50/60 do século passado, o velhíssimo Estado Novo. Agora, o vinho é um suplemento de alma, quer dizer, um prazer.
A mudança de paradigma obrigou à alteração do estilo dos vinhos portugueses. E colocou um ponto final ao amadorismo até aí existente no universo dos nossos vinhos. Novos processos de vinificação, novas tecnologias, técnicos mais bem preparados, muitas novas marcas colocaram a questão da qualidade dos vinhos em primeiro plano. Também já lá vai o tempo em que as regras eram sobretudo ditadas pela Natureza, ou seja, pela maior ou menor qualidade da colheita e em que os consumidores queriam era vinho, sem se preocuparem com o que torna os vinhos distintos uns dos outros.
Constatada esta situação, deve ter-se em conta que o movimento que elevou a qualidade e diversificou a escolha de vinhos portugueses não nasceu do nada nos anos 70/80 do século passado. Como fez questão de sublinhar o enólogo José Maria Soares Franco, há uns anos, no âmbito de um trabalho sobre vinhos realizado pelo PÚBLICO, "sempre houve bons vinhos em Portugal. É importante chamar a atenção para isso, porque hoje em dia diz-se muitas vezes que os vinhos portugueses melhoraram espectacularmente e a maior parte dos consumidores pode pensar que dantes não havia vinhos bons e que hoje em dia só há bons vinhos. Não concordo com isso. Sempre houve bons vinhos portugueses. Principalmente de quinta. Só que eram muito poucos. Ou poucos litros. Até esse momento, os enólogos tinham uvas provenientes de vinhas velhas, de boa qualidade, as regiões eram boas, o clima era bom, as castas eram boas, mas a intervenção do enólogo era relativamete pequena. Tinha que vinificar as uvas que vinham com misturas de diferentes castas, e isto só na altura em que o lavrador queria apanhar as uvas".
Estas observações de José Maria Soares Franco, actualmente empenhado, no Douro, no projecto DUORUM Vinhos, com João Portugal Ramos, enólogo cujo contributo para a modernização dos vinhos alentejanos é reconhecida, são muito interessantes. É verdade que "sempre houve bons vinhos portugueses" caso não nos esqueçamos da existência do Barca Velha, dos Porta de Cavaleiros e Caves São João, do Tinto Velho de Rosado Fernandes, dos Aliança, dos Montes Claros, do Quinta das Cerejeiras, de alguns Collares, dos Quinta da Aguieira, dos Buçaco, dos vinhos do Centro de Estudos de Nelas (estes fora do circuito comercial), do Periquita e do Pasmados e de mais uns quantos, entre os quais os ribatejanos de Francisco Ribeiro, um pioneiro dos monocastas. Mas eram muito poucos. E os enólogos, como reconhece José Maria Soares Franco, tinham pouca influência na sua elaboração.
A partir dos anos 70/80, e também por acção dos produtores-engarrafadores entretanto surgidos, primeiro na Região dos Vinhos Verdes, depois no Alentejo, Dão, Bairrada e por aí adiante, conjugada com a fúria demarcadora que, nos anos 90, se apoderou dos políticos portugueses, o panorama mudou radicalmente. Nesta conjuntura, emerge a figura do enólogo, muitos deles com formação nas grandes escolas francesas, com destaque para Bordéus, que desencadearam uma revolução na viticultura. E, embora poucos, também não se pode ignorar a influência de enólogos estrangeiros no movimento de renovação dos vinhos portugueses.
A propósito, penso que foi um enólogo australiano, Peter Bright, chegado a Portugal em 1979 para trabalhar na JP Vinhos a convite de António Francisco Avillez, quem primeiro utilizou a madeira nova de carvalho para fermentar e estagiar vinhos brancos e tintos e controlou a temperatura das fermentações. O branco Catarina, colheita de estreia em 1982, foi o primeiro branco fermentado em madeira nova. Seguiu-se o Cova da Ursa, um Chardonnay, em 1985. Estagiados em madeira nova, os tintos (Bacalhôa, Tinto da Ânfora e Má Partilha), e fermentados, na mesma madeira nova, os brancos, os vinhos provocaram alguma polémica no meio, mas foram bem aceites pelo público. De tal maneira que, no início dos anos 80, não havia festa ou refeição que se pretendesse requintada que não fosse abrilhantada pelo branco João Pires, feito com uvas Moscatel, ligeiro e gentil, muito frutado, o que o afastava da generalidade dos brancos existentes, em geral pesadões, alcoólicos e sem notas de fruta fresca e pelo tinto Quinta da Bacalhôa, a que o estágio em madeira nova de carvalho tinha transmitido notas tostadas e abaunilhadas.
A importância da viticultura
Contemporâneos da revolução enológica são os avanços na área da viticultura portuguesa, embora a inovação nesta área se desenvolva num ritmo mais lento. "O vinho faz-se na vinha", dizem os técnicos. A importância da viticultura é reconhecida por todos os actores do sector dos vinhos, por permitir aos enólogos escolher melhor e de forma mais segura a qualidade, seleccionando as castas de forma mais competente, vindimá-las na altura ideal, de trabalhar a vinha de forma diferente, com mais técnica, porque cada casta tem uma individualidade própria que exige abordagens diferentes. A viticultura é o segredo da apanha das uvas na melhor altura, da lotação mais adequada, ou seja, da mistura das castas ou não, conforme a decisão seja fazer vinhos de uma só casta ou de várias.
À mudança nos vinhos não é igualmente alheia a mudança do perfil dos consumidores, que se mostram cada vez mais exigentes em relação à qualidade dos produtos, à respectiva relação preço/prazer, bem como à ligação do vinho à respectiva origem. O vinho deixou de ser um produto anónimo ou pouco menos, ostentando apenas a marca e o nome da firma que o engarrafou, para se tornar numa coisa com currículo, história, local de nascimento, de tais e tais vinhas com as castas xis e ípsilon, criado ou vinificado pelo enólogo fulano de tal. Há também quem eleja como tema de conversa (o bom vinho solta muito as línguas...) a questão de saber se foram os novos vinhos que contribuíram para a educação e sofisticação do gosto dos consumidores ou se foram estes que passaram a exigir mais dos produtores. A retórica está-nos na massa do sangue, mas, se vejo bem, o tema é irrelevante.
O que já me parece importante sublinhar é, e o facto é particularmente relevante na região do Douro, o aparecimento de uma nova geração de enólogos que, ao contrário da prática anterior, se decidiram a ir para lá, organizando aí a sua vida. O Douro deixou de ser, apenas, a região onde se produz o vinho do Porto, para passar a ser também o lugar onde se elaboram alguns dos nossos melhores vinhos de mesa. No Alentejo, durante muito tempo considerado "o celeiro de Portugal", o vinho e o seu êxito junto dos consumidores veio ajudar a alterar essa ideia. A gentileza e a macieza frutada da generalidade dos vinhos alentejanos tornou os nos mais procurados e vendidos.
Fica então claro que os vinhos agora à disposição dos portugueses são melhores e são muitos mais dó que há duas/três décadas atrás. E o movimento de criação de novas empresas e de novas marcas de vinhos, embora registando ultimamente algum abrandamento, ainda não parou. O vinho também tem um lado de moda, de "social", e há por aí dinheiro a circular que precisa de "pedigree". Mas, os apreciadores têm toda a vantagem, num mundo tão diverso, de não se fixarem num estilo de vinho. Este é um mundo plural, há o "velho" e há o "novo". Vale a pena ter em conta os dois e manter o espírito e as papilas abertos e disponíveis para, de cada um deles, colher os melhores frutos. Ou seja, desarrolhar as melhores garrafas
Os quatro escanções dos hotéis portugueses com as melhores garrafeiras gerem 15.505 garrafas. Na lista há variedades para todos os gostos: desde um elegante vinho francês a outro que se pode comprar no supermercado. O investimento é de 700 mil euros.
Um empresário brasileiro, na casa dos 30 anos, estava a petiscar um folhado de lagosta no restaurante gourmet do hotel Porto Palácio quando pediu ajuda para escolher um vinho. Foi-lhe sugerido que experimentasse alguns vinhos a copo. Recusou educadamente. O empresário queria mais requinte. Pediu a carta e escolheu um Pêra Manca de 1998 para acompanhar o prato seguinte: um tornedó de vaca com trufas e ‘foie gras’. No final da refeição, voltou novamente a olhar para a lista. “Perguntou quantas garrafas tínhamos de Pêra Manca e de Barca Velha”, lembra Miguel Ribeiro, coordenador de alimentos e bebidas do hotel Porto Palácio.
O empresário decidiu acabar com o 'stock' e comprou as 16 garrafas que o hotel tinha para vender. "Foram todas embaladas cuidadosamente e, no dia seguinte, pagou cerca de cinco mil euros", diz o coordenador. Ter uma boa garrafeira é tão importante como o número de estrelas do hotel. Por isso, o Porto Palácio apostou numa estratégia de marketing para seduzir os clientes. As garrafas estão expostas em prateleiras, cobertas por um vidro, ao lado da sala dos pequenos-almoços. "Assim, todos os clientes a podem ver", afirma o escanção do hotel, Abílio Nogueira. Um olho experiente detecta rapidamente os melhores vinhos. Colocado na prateleira superior destaca-se o exemplar único de Montrachet Romanée Conti, da região de Bourgogne, em França. Esta relíquia é a mais cara da lista, custa 3100 euros, e ainda está à espera de ser vendida. "Como somos um hotel de negócios temos também uma boa variedade da Nova Zelândia, Austrália ou França", diz Abílio Nogueira.
Mas em cada 100 garrafas vendidas nos restaurantes do Porto Palácio a preferência vai para os portugueses: 90 delas são de vinhos nacionais. Os turistas e homens de negócios gostam de provar o que é nosso. A carta é alterada de três em três meses consoante as preferências dos clientes. Os vinhos menos vendidos são retirados da lista e entram as novidades do mercado. "Sigo a opinião dos enólogos, da imprensa especializada e frequento as feiras de vinhos", acrescenta o escanção do hotel Porto Palácio.
Enquanto a garrafeira do Porto Palácio está à vista de todos, a do Ritz Four Seasons Lisboa, fica escondida numa cave trancada a cadeado. Só os elementos da segurança do hotel têm acesso às chaves. No interior, os vinhos encontram-se a uma temperatura de 17 graus e ordenados de acordo com as regiões vinícolas de Portugal: Douro, Dão, Bairrada, Beiras, Estremadura, Ribatejo, Terias dosado e Alentejo. Os Barca Velha, Pêra Manca, S de Soberano ou Vinha de Lordelo são algumas das estrelas da casa. "Só cinco por cento da carta é composta por produtos estrangeiros. Temos italianos, como o Sangratino de Montefalco ou um americano como o Opus One", diz Licínio Carnaz.
No Ritz, os vinhos nacionais são os mais consumidos, à semelhança do que acontece no Porto Palácio. Num total de 100 garrafas vendidas, 99 são portuguesas. Para estar sempre actualizado, Licínio faz pesquisa pela Internet e desloca-se pelo País para visitar as várias feiras de vinhos. "Em relação à encomenda de vinhos estrangeiros entro em contacto com outros escanções. Por exemplo, o João Pires, que já trabalhou no Ritz tem muita experiência no mercado internacional", diz.
O restaurante do Ritz é frequentado por dois tipos de clientes. À hora de almoço são sobretudo empresários portugueses que pedem apenas uma garrafa ou optam por beber vinho a copo. Os do Douro e do Alentejo são os mais escolhidos. À noite são sobretudo os turistas, que gostam de fazer jantares mais longos. "Vendo mais garrafas ao jantar porque durante o dia as pessoas vão trabalhar ou têm de conduzir e evitam beber", diz Licínio Carnaz.
No Sheraton Porto Hotel and Spa a escanção Marisa Rosa sabe quando um empresário faz um bom negócio. “A qualidade do vinho reflecte a importância do contrato. Quando isso acontece, os empresários pedem normalmente um Casa Ferreirinha, de 1996 (custa 75 euros) ou um Barca Velha de 1999 (224 euros)”, diz. Os portugueses absorvem quase toda a venda de garrafas. Porém, também existem algumas da Argentina, Espanha, Itália, Austrália e EUA.
Aqui, a garrafeira está no interior do restaurante numa sala envidraçada. Marisa Rosa costuma convidar os clientes mais indecisos a entrar e a escolher o vinho desejado. Se quiserem também podem provar. Por isso, dentro da garrafeira existem diversos tipos de copos. "Com uma abertura menor se for para beber um vinho branco e maior para um tinto encorpado", explica Marisa.
A carta está dividida por regiões e costuma ser alterada anualmente.
No dia em que isso acontece o coordenador de Alimentos e Bebidas do hotel, Thierry Henrot, e a escanção têm de trabalhar até de madrugada. "Já aconteceu ficarmos até às 4h00 da manhã a decidir os novos vinhos", explica Thierry. Os dois reúnem a informação pesquisada na Internet, nas feiras de vinhos e nas provas que fizeram. "Por exemplo, quando os produtores ou distribuidores nos oferecem vinhos que não conhecemos provamos e atribuímos uma nota No final do ano, quando substituirmos os vinhos, entram na carta os que tiveram a melhor avaliação", explica Thierry. Ana Paula Lopes, escanção do Pestana Palace, só trabalha com vinhos portugueses. "Os clientes estrangeiros que aqui vêm preferem os do Douro, Dão e Alentejo", diz. O investimento em vinhos internacionais deixou de fazer sentido por escassez de procura. A carta é renovada três vezes por ano e obedece a critérios rigorosos de qualidade e preço. "Temos de ter garrafas caras, de preço média e baratas", conta Ana Paula Lopes.
Um dos mais caros é o Mouchão Tonel 3-4, que custa 250 euros. Barca Velha, Batuta e Homenagem a António Carqueijeiro são outras das garrafas mais valiosas do Pestana Palace. Guardadas numa cave junto à sacristia do hotel, Ana Paula é a única que tem a chave da porta. As paredes grossas conservam o vinho à temperatura ideal (entre os 15 e os 17 graus).
A hora do almoço e do jantar os escanções vestem-se com um fato escuro. Depois, todos têm as suas tácticas para detectar se há alguma imperfeição no vinho. Por exemplo, Marina Rosa além de provar também cheira a rolha das garrafas abertas. Aliás, a escanção do Sheraton tem uma teoria curiosa sobre a sua profissão. "Faço o que gosto e, talvez por provar tantos tipos de vinho, não tenho uma constipação há anos", diz. De facto, Marina é das funcionárias com maior assiduidade. Em quatro anos e meio nunca faltou ao trabalho.
Diário Económico | 02-04-2008
Os enólogos franceses elegeram o Syrah 2005 da Casa Ermelinda Freitas, de Palmela, como o melhor tinto de 2008. A concurso estavam mais de 3 mil vinhos de 36 países. O vinho foi o grande vencedor do Vinailes Internacionales 2008, que se realizou em Paris. No concurso, mais de 3 mil vinhos são objecto de uma prova cega pelos mais conceituados enólogos franceses.O Syrah 2005 foi produzido pela Casa Ermelinda Freitas, sediada na aldeia de Fernando Pó, concelho de Palmela. Nos últimos anos, a adega familiar fundada em 1920 conquistou 18 medalhas de ouro, 21 de prata e 14 de bronze em concursos internacionais. |
Churchill não beberia este vinho
Um Porto é para beber em horas solenes com poses hirtas e gestos comedidos, certo? Errado, e agora mais que nunca: na semana passada nasceu o Porto Pink, um rosé, para beber frio. Os puristas indignaram-se e chamam-lhe Ponk; os outros dizem apenas: porque não? Uma polémica para servir com gelo.
Para muitos é uma heresia. Outros falam em cedência. Alguns prenunciam o princípio do fim de um mito feito de solenidade e dos bons modos da aristocracia. Há quem diga que não, que já é tempo de acabar com a associação a imagens como a dos três velhotes sisudos. Há quem respire de alívio por ter surgido uma inovação no sector, quase meio século depois do nascimento do Late Bottled Vintage (LBV). A notícia do momento no circunspecto mundo do vinho do Porto carrega o peso de um vinho ligth e o dramatismo do cor-de-rosa.
A Croft, uma das mais antigas e emblemáticas empresas do sector (foi fundada no Porto em 1678) lançou há uns meses no Reino Unido o Porto Pink, um rosé muito doce e aromático, e na semana passada repetiu a ousadia em pleno coração do entreposto de Gaia.
De imediato, as hostes inquietaram-se. Os jornalistas britânicos da especialidade torceram, na sua maioria, o nariz. O site fortheloveofport.com registou dezenas de comentários militantes, na sua grande maioria ácidos para o modernismo. "Não faz o meu estilo. Precisa de mais cor e extracção para equilibrar o álcool", escreveu um tal Derek, de Inglaterra. "Uma péssima ideia sob todos pontos de vista", continuou Botbol Moses, de Boston, Estados Unidos. Outros, ainda mais extremados, inventaram a palavra Ponk para minar qualquer pretensa seriedade do Port Pink.
Para a Croft, uma das empresas do universo The Fladgate Partnership (que inclui a Taylor"s, a Fonseca e, entre outras, a Delaforce), a ideia não foi, porém, ir ao encontro do "estilo" dos zelosos da tradição, como são os que frequentam o fortheloveofport.com. Adrian Bridge, director da Fladgate, quer outro segmento do mercado. O das mulheres, por exemplo. O dos jovens também. Para o conseguir, explica, a Croft teve de lançar mãos à imaginação e lançar um produto novo para todos "aqueles que valorizam uma nova experiência no mundo do vinho do Porto". Um vinho que não exigisse copos Riedl ou cálices com a assinatura de Siza Vieira. Que não requeresse momentos especiais. Que, como o Portonic (mistura de porto branco com água tónica), pudesse ser servido com gelo, em alternativa a uma vodka ou a um whisky, numa festa de aniversário ou numa discoteca. Um vinho que, de algum modo, dessacralizasse a imagem do vinho do Porto e recuperasse um pouco da volúpia que fez furor há umas décadas, quando a Ramos-Pinto lançou uma campanha publicitária com mulheres seminuas e em poses insinuantes a apelarem à "tentação" - não foi por acaso que, em Portugal, o Pink chegou às garrafeiras no dia dos namorados.
Esta história que anima o debate sobre a identidade do vinho do Porto (rigorosamente, o que é, de onde vem, para onde vai...) começou há três anos. David Guimaraens (não, não é erro de grafia, o nome escreve-se como se escrevia no século XIX, quando o seu antepassado Manuel Pedro Guimaraens, um liberal do Porto, fugiu às perseguições miguelistas instalando-se em Londres), o enólogo da casa, foi incumbido de criar algo de novo. A invenção de um Porto com chocolate, ou com canela, ainda foi tentada, mas jamais a ortodoxia do Instituto dos Vinhos do Porto e Douro, a entidade reguladora do sector, toleraria semelhante alquimia. David optou então pelo rosé, seguindo uma "abordagem semelhante à que é adoptada quando se produz um vinho branco frutado". Esmagou as uvas, prensou-as ligeiramente, decantou o mosto a frio para ficar limpo de sólidos, acrescentou-lhe leveduras seleccionadas para uma fermentação a baixas temperaturas, refrescou a aguardente para o momento da beneficiação. Depois de vários ensaios e de vários protótipos, definiu a fórmula, convenceu o IVDP a certificar os processos e a enquadrar o produto nas categorias de vinho do Porto existentes e, finalmente, nasceu o Porto Pink.
Como é óbvio, o Pink não é catalogável à luz dos inventários existentes. Não é vintage, nem LBV, nem branco, nem tawny, nem um 10, 20 ou 30 anos. Para o inscrever na família, a Croft teve de vencer uma primeira barreira: em que categoria de vinho do Porto se mete o Pink? Com um pouco de generosidade, acabou por ser um ruby, embora como o seu nome indica, seja um pink e não um ruby. "É importante que o vinho do Porto seja uma actividade aberta à mudança e à inovação", explica Jorge Monteiro, presidente do IVDP, o homem que teve de encontrar brechas na regulamentação para que o Pink pudesse ser um Porto. Muitos produtores resmungam com tamanha abertura de um organismo público que, por tradição, não olha a meios para impor a ortodoxia e o classicismo do vinho do Porto. O que estava agora em causa, porém, não era uma mera certificação de um lote ou outro: era um plano que, se correr bem, pode ser um tónico para o sector. Como troca para a complacência, os dirigentes do instituto insistiram na necessidade de se fixar um bom preço e gostaram de saber que o Port Pink se vende em Londres a 10 euros por garrafa, o triplo do que vale um vinho da gama inferior do vinho do Porto.
Ainda é cedo para se saber se a aposta da Croft está ganha. À partida, as condições eram favoráveis. Os homens da Fladgate gostam de fazer coisas bem feitas (os seus vintages ficam sempre acima dos 92/94 pontos nas grandes revistas mundiais da especialidade e, em 1994, conquistaram até 100 pontos em 100). Gostam também de experimentar coisas novas, desde vinhas desenhadas com recurso a raios laser que ganharam prémios mundiais na área da viticultura, a vinhos biológicos que estão a ser bem aceites pelos consumidores. Falta no entanto o teste dos consumidores que, para já, parece estar a correr bem. "Há muitas cadeias de distribuição interessadas no produto", diz Albino Jorge, administrador da Romariz, uma das empresas do grupo Fladgate. Resta saber se o impacte da novidade (e do marketing) será suficiente para escoar os 400 mil litros de Pink produzidos este ano.
Enquanto se segue de perto o fluir dos mercados, no universo dos apreciadores o que conta é a troca de argumentos entre ortodoxos e, digamos, liberais. O espectro da discussão é amplo e, obviamente, delicioso. Se o vinho do Porto pode ser jovem e ruby, se lhe ficam bem as tonalidades douradas dos tawny, as cores violáceas dos jovens vintage ou até os reflexos esverdeados de um vinho muito, muito velho, porque não Pink? Porque há-de o vinho do Porto ser apenas aperitivo em França ou na Bélgica, ou vinho de sobremesa em Inglaterra ou nos Estados Unidos? Se nos anos 20 e 30 os operários britânicos se habituaram a misturar Porto com Ginger Ale e sumo de limão, se é moda combinar branco seco com água tónica, porque não tolerar um pouco de gelo num Porto rosé?
Talvez as dúvidas não considerem um facto indiscutível: apesar da tradição que hoje é uma das marcas (e uma das ameaças?) do negócio, os agentes económicos do sector, do Porto ou do Douro ou de Londres, sempre estiveram na vanguarda da viticultura e enologia mundiais. O vinho do Porto deu origem à primeira região demarcada e regulamentada do mundo; foi dos primeiros vinhos a aproveitar a evolução da garrafa para aproveitar o envelhecimento em ambientes redutores; foi um dos primeiros vinhos globais da História; foi pioneiro no marketing, na rotulagem, na menção das quintas de origem, na indicação da data da colheita como critério de avaliação, foi inventivo da evolução enológica ou na definição de novas categorias.
O Pink nasce nessa continuidade e, como todas as rupturas, foi objecto de devoção e de ira. Talvez os apreciadores de um vintage clássico com 20 ou 30 anos de garrafeira o consigam provar apenas e se esquecerem que é um vinho do Porto. Porque é difícil meter no mesmo saco um dos vinhos mais intensos e complexos do planeta com um vinho ligeiro por definição. Outros, porém, talvez possam cair na tentação de uma cor mais jovial e fresca e consumir Porto (ou Pink) pela primeira vez. Num cálice convencional, por exemplo. Mas para que não haja dúvidas, o melhor mesmo é separar as águas e experimentá-lo num copo alto. Com umas boas pedras de gelo. Afinal, um Porto é um Porto, um pink é um pink, embora agora também haja um Porto pink .
Manuel Carvalho | Público | 18-02-2008
As doenças do lenho da videira são um grave problema fitossanitário que existe em todas as zonas vitivinícolas do país e do mundo. A revista de origem francesa Phytoma coloca frequentemente na sua capa referências a estas doenças e no seu interior possui extensos artigos sobre as mesmas.
As doenças do lenho da videira mais conhecidas são a eutipiose e a esca. Estas doenças atacam vinhas jovens e adultas, viveiros e campos de pés-mães.
A eutipiose é causada pelo fungo Eutypa lata que ataca também outras espécies de fruteiras como por exemplo a ameixieira e o damasqueiro. O fungo penetra nas plantas através das feridas resultantes da poda. A sua incidência é elevada em regiões onde a precipitação média anual é superior a 600 mm e em climas temperados.
É uma doença de evolução lenta, em que a gravidade dos sintomas aumenta de ano para ano. A morte do ramo atacado ou da cepa ocorre 3 a 5 anos após o aparecimento dos primeiros sintomas.
Os jovens rebentos infectados são mais pequenos, com entre-nós curtos e regulares e cloróticos. Numa fase mais avançada da doença, os pâmpanos ficam reduzidos a alguns centímetros, apresentam uma coloração avermelhada e, por vezes, ficam desprovidos de folhas (fig.1).
Figura 1
As folhas jovens são, em geral, mais pequenas que o normal, apresentam-se cloróticas e adquirem a forma de taça. Frequentemente, desenvolvem pequenas manchas necróticas e as margens ficam esfarrapadas. Nos casos mais graves, as necroses marginais podem estender-se a todo o limbo, provocando a seca e queda das folhas.
As inflorescências têm aspecto quase normal até à floração, altura em que secam completamente ou sofrem forte desavinho.
O corte transversal do tronco ou do ramo atacado mostra uma zona necrosada em forma de cunha ou triangular cuja madeira morta é acastanhada, dura e quebradiça (figs.2 - 3).
Figura 2
Figura 3
A esca é provocada por um complexo ou associação de fungos, entre os quais se destacam Phaeoacremonium aleophylum e Phaemoniella chlamydospora. Esta doença pode ser tão antiga como a própria cultura da vinha. Já no tempo dos Gregos e dos Romanos existiam referências a sintomas semelhantes aos provocados pela esca (Mugnai et al., 1999).
Trata-se de uma doença complexa, cujos sintomas resultam de alterações estruturais e fisiológicas da planta. Esses sintomas podem ser de dois tipos: agudos ou crónicos. Na forma aguda da doença, também chamada de apoplexia (fig. 4), toda a planta murcha e seca repentinamente (Larignon, 2004; Mugnai et al., 1999). Os sintomas da forma crónica ou lenta manifestam-se no interior do tronco ou ramos maiores, nos rebentos e ramos mais pequenos, nas folhas e nos cachos (figs. 4, 5, 6 e 7).
Figura 4
Figura 5
Figura 6
Figura 7
É necessário alertar para o facto de alguns dos sintomas atrás referidos não serem específicos destas doenças. Podem ser consequência de problemas fisiológicos, como a carência de magnésio ou o stress hídrico extremo. No caso particular da morte repentina das videiras (apoplexia), a sua origem pode ser devida ao fungo Armillaria mellea.
Actualmente, a melhor forma de combater e evitar estas doenças consiste na adopção das seguintes medidas preventivas:
1. Utilização de material de propagação vegetativa certificado
2. Eliminar todos os restos de raízes e plantas em terrenos destinados a novas plantações
3. Realização de podas o mais tarde possível e em tempo seco e sem vento
4. Podar as cepas doentes em último lugar
5. Retirar do terreno todas as plantas doentes e restos de podas, queimando-os logo de seguida
6. Evitar tanto quanto possível cortes com grandes superfícies
7. Desinfectar e proteger os cortes de maior superfície com unguentos de enxertia
8. Desinfectar o material de poda (tesouras) sempre que se mude de planta com lixívia a 5%
9. Sempre que possível utilizar tesouras com dispositivos automáticos de distribuição de fungicidas e/ou desinfectante
O tratamento químico preconizado contra estas doenças é a aplicação de um produto à base de carbendazime+flusilazol (ESCUDO) sobre as feridas e cortes de maiores dimensões. Este tratamento preventivo, deverá ser efectuado com tempo seco, com a vinha no estado de repouso vegetativo e directamente sobre as feridas da poda, sem qualquer diluição.
Nos Açores as doenças do lenho da videira não são um problema novo nem actual, em especial na ilha do Pico. A Direcção de Serviços de Agricultura e Pecuária e o Serviço de Desenvolvimento Agrário do Pico, em particular, conhecem bem o problema e ao longo do tempo têm vindo a alertar e a informar os viticultores a não utilizar material de propagação vegetativa de videira (estacas ou varas, porta-enxertos e plantas já enxertadas) não certificado, que aliás é proibido por lei (Decreto-Lei n.º 194/2006, de 27 de Setembro, que regula a produção, controlo, certificação e comercialização de materiais de propagação vegetativa de videira).
» Paulo Machado substitui M...
» LABORATÓRIO REGIONAL DE E...
» Descendentes da "Ferreiri...
» Regulamentados apoios à r...
» Vinho do Porto junta-se a...
» Os melhores são cada vez ...
» O melhor vinho do mundo é...
» Novo Vinho do Porto - CRO...
» DOENÇAS DO LENHO DA VIDEI...